Sou como Dédalo a reconstruir Creta,
a criar labirintos à toa,
por amor à arte, por diversão.
Pinto cores num imenso painel
-à la Portinari, candidamente.
Do abismo vou ao pico em segundos,
como agem as mentes bi-polares.
Sou como Nero a incendiar Roma:
o mundo me xinga ou se apieda,
mesmo assim, nem remorsos eu sinto.
Os dias se consomem lá fora:
máquinas dentro de outras máquinas,
fogo destruindo os pilares...
Dentro do homem deve haver o homem.
que segue, apesar dos pesares,
nem que dure uma vida inteira,
à procura de sua identidade.
A fera sucumbe às vaidades,
mas na fogueira se regenera...
Repasso a lição rapidamente:
Dédalo e seu preciso dedo,
Ícaro e sua asa frágil,
Nero e sua útil loucura,
Cândido e seus mágicos pincéis...
(eu aqui com todos os meus medos,
foram-se os dedos, ficaram os anéis!..)
Mas Pessoa e sua livre poesia
me faz questionar onde eu vou,
sozinho, nesta estrada vazia...
Anima-se o poeta escondido
no vão livre dos meus sentimentos.
Sou como Pessoa a fingir dores.
Sou como Pessoa a fingir dores.
Ergo-me, depois de cada queda,
encaro o céu com suas estrelas
e junto delas costuro as rimas.
Vejo que as janelas vão se abrindo
em busca do encanto e da magia...
Veloz e ilimitado é o caminho!
Veloz e ilimitado é o caminho!
Ouso então voar bem mansamente,
sentindo o ritmo combalido
e os versos! - um de cada vez...
Eu os fiz um dia, por desatino,
na insensatez dos abraços dados,
na atroz sede do amor imorrido
e nos terços rezados sem fé!..
Ponho-me de pé, me equilibro
e assino meu livro dos desvios.
O poeta que vive no homem
segue caçoando do labirinto
Creta está tão longe e ausente,
e minha alma está tão distante...
e minha alma está tão distante...
O incêndio não foi ainda apagado
e outra vez ser crucificado!
Autor: Expedito Gonçalves Dias
Escrito em Varginha, 29-04-2012, às 15:45h
(fonte da imagem: Google)
Autor: Expedito Gonçalves Dias
Escrito em Varginha, 29-04-2012, às 15:45h
(fonte da imagem: Google)