Maria afastou-se, saciada,
Como sempre faz.
Como sempre faz.
Saiu voando feito um pássaro.
Ave rara...
(Ao sair, despiu-se das idéias e as deixou jogadas no corredor.)
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Faz tempo Maria não vem.
Maria. Um nome que tudo abarca.
Sua química é perfeita.
Com Maria o verso se faz. Vira música e oração.
Faz-se o Amor.
Sem pecado. Juízo, nem pensar...
Hoje, de novo nem o luar se fez.
Tampouco as aves que habitam a noite.
Se ela soubesse que faz saudade por aqui,
talvez trouxesse a lua
junto consigo. E novas idéias, diáfanas,
para colorir outra vez o chão do corredor;
A janela continua aberta em busca da lua,
das aves raras noturnas,
cheias de graça.
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Tenho os olhos suplicantes e sondo a escuridão,
esquadrinho os céus e ainda Maria não vem.
Nada de novo na rua. No céu nenhuma nave esquisita.
Tudo deserto. Fora e aqui dentro.
A ausência dela torna tudo árido, fugidio, estranho, hostil.
Mas, não creio que Maria tenha fugido.
Apenas saiu para dar satisfação ao seu bando.
Deve voltar breve (assim espero.).
Eu também tenho fugido, às vezes.
Desse fugir leve, brando, original, sem pecado.
Desse fugir leve, brando, original, sem pecado.
Fugido assim, para voltar antes da hora marcada...
O quarto está às escuras. O corredor nu.
A alma vazia. A garganta seca.
A alma vazia. A garganta seca.
Metade de mim está ausente, a outra está entorpecida.
O antídoto deve estar por aí em vôo livre,
nos lábios de Maria.
Vou até a cozinha, abro a geladeira.
Pego uma jarra e bebo de um gole toda
essa saudade travestida em desespero...
essa saudade travestida em desespero...
Escuto, arrisco. Perscruto o silêncio.
Nada denuncia a presença de Maria.
Desisto, por hoje.
Amanhã estarei aqui de novo.
Ela há de voltar por necessidade ou pura
distração, no seu jeito alegre de ser.
Como todas as da sua espécie,
ela só quer se divertir!...
Fecho a geladeira.
Fecho as janelas.
Apago a luz do corredor...
Fecho as janelas.
Apago a luz do corredor...
Abro-me em oração, rogo por nós, desertores,
por nossa sorte, agora e sempre.
Ave Maria!...
Ave Maria!...
Autor: Expedito Gonçalves Dias
(Escrito em 20-02-1998)0005-Meus Poemas - A luz espectral do corredor
Um comentário:
Surpreendente...sua ansiedade é demais triste pela não vinda dela..
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