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quinta-feira, 17 de março de 2011

Duas Postagens - A Fonte(poema) e Ilynx - Capítulo 1(continuação)

A Fonte

No seu verso o poeta chora a grande dor sufocada
ou a alegria escancarada.
Em sua estrada se alternam medonhos pesadelos
e  suaves epifanias.
Por isso nem sempre está satisfeito:
Sai do peito uma vontade de extrapolar,
de encarar-se
e dizer toda a verdade:
É seu desejo, um compromisso,
faz parte da sua sina,
do seu intuito verdadeiro.
Mas sente-se sozinho em sua arte...
...................................................
Noutras plagas, qu'ele sabe sem fronteiras ou algemas
-há um lugar-
vala comum, onde jazem tranquilos tantos sonhos...
Lá, então, deposita mais um.
Retira, sorrateiro uma rima
e põe no seu novo poema!

Autor: Expedito Gonçalves Dias (Profex) . Escrito em Lambari em 08-Set-1987, 22 h




Ilynx

Capítulo 1 - Paisagem além da tarde


Quanto dura um pôr do sol?



            Terminei o serviço. Acabara de plantar o segundo pé de romã na beira do lago. Recolhi as ferramentas e levei-as até o tanque para lavar os resíduos de terra. Colher, faca, enxadão e tesourão de aparar grama. Depois voltei até à varanda para observar a paisagem. Eles estavam lá: pequenos, mas imponentes. Daqui a um ano já estarão floridos e fornecendo uma pequena sombra “e eu já terei esquecido aquele pirralho!...”:
-Nem pensar, cara! Ontem à tarde eu te contei o que queria saber. Você perguntou e eu respondi. Tudo, tudo. Eu era o garoto do seu álbum. E o que aconteceu? Isso!... Você me veio em seguida com outras promessas. Pois voltei! Agora, vai ser assim: só com papel passado, documento assinado, preto no branco!... - eu já não entendia mais nada. O garoto estava ali, na minha frente. E o pior: Eu não estava de olhos fechados. Não podia ser! “Será que eu estou num sonho? Não! Acabei de plantar aquelas duas mudas de romãs...” 
-...E fica tranqüilo que não é sonho, não! - ele disse, adivinhando meus pensamentos. - Você está me vendo com a sua mente. Eu estou lhe falando diretamente nos ouvidos!...


            Eu começava a entender. Uma luz começava a brilhar...
- ...Isso mesmo, no fim do túnel! - arrematou o guri, completando os meus pensamentos. “Será que eu ...”
-Não, não está ficando louco não. Por enquanto, não! Mas eu me lembro: numa de suas leituras você disse qualquer coisa assim “tu te tornas...”
- “eternamente responsável por aquilo que cativas”-arrematei: Antoine de Saint Exupèry. E daí? Li isso ainda pequeno tinha uns dez ou doze anos.
-Eu me lembro.
-Como assim?
-Você leu pra mim. Eu prestei bem atenção. Me comovi. Senti que meu sangue era azul! Mas qual! A partir daí começaram suas promessas para comigo. Embrulhão! Seja homem!...
            Tentei interromper. Mas parecia que tinha ligado uma vitrola:
-Depois desse tempo você foi mais longe ainda. Queria consertar o mundo. Queria ser um modelo a ser imitado, o tal! Um grande embusteiro, isso sim. Percebi depois. Afastou-se de mim, deixou-me na estrada, seguiu outro rumo e agora está aí, parado, olhando a paisagem...
            E eu olhava mesmo! Como que hipnotizado. Do lado de lá, além do lago, as montanhas faziam sombras entre si, num lento entardecer. Aquela conversa já durava horas. E o sol se recusava a ir embora naquele dia. Arrisquei, então:
-Se eu não estou louco, ainda, conforme afirma, você deve ser...digamos...
-Continua, cara. Você está quente! Chicotinho ...
-...queimado! Falei primeiro, seu bobão... - Percebi que eu até me soltava naquele diálogo maluco. - Entendi quase tudo: Eu sou você hoje! Você é o fantasma da minha infância! É o que estou vendo na minha frente! -aquilo não me soou bem, mas era a única forma que eu achava no momento de expressar o meu espanto.
-Bingo! Só que não sou nenhum fantasma. Estou aqui, vivinho da silva...
-Mas eu não entendi uma coisa. Por que você me aparece só agora? Quantas vezes eu precisei aí de umas orientações...
- “Quando o discípulo está...”-ele começou.
- “...preparado o mestre aparece!”-completei. -Essa é velha! Conta outra! Vai dizer que é o meu Mestre. Daqui a pouco você vai dizer que eu atingi um certo estágio da minha lenda...
-Isso mesmo!... Lenda pessoal! -Não tive tempo de completar com mais detalhes o pensamento e fui novamente interrompido pelo pestinha: - Foi outra daquelas historinhas que você leu pra mim e que nunca levou a sério. Eu sempre estava lá no meu cantinho, atento, esperançoso. Como sua criança interior eu já não suportava mais ser ludibriado, mas não havia meio de romper essa barreira.
-Só por curiosidade: como conseguiu agora?
-Ora, você abriu a guarda. Acho que chegou a hora. Sua situação é crítica! E corremos perigo, você e eu!
            As montanhas atrás do lago escureceram de vez. Fora o por de sol mais lento de toda a minha vida!
-Mais uma pergunta, pois sei que seu tempo está se esgotando... 
-Faça logo! A tarde já se foi e não posso ficar mais...
-Qual o seu nome? - Me senti estranho por perguntar o óbvio. E mais desconcertado pela resposta:
-Ilinx. Pode me chamar de Ilinx!
             E a noite levou o menino com ela...
                                                             
                                (Continua no próximo post)

4 comentários:

Penélope disse...

Quanto aos poetas é mesmo assim, fazem um reflorestamento constante.
Retiram e plantas suas florestas a todo instante para que dele sempre possam se alimentar...
florestas eternizadas as dos poetas.

A continuação do seu livro - É isso que acontece a quase todos ou a todos, essa companhia que nada mais é que o reflexo de nós que para muitos passa despercebido por toda vida.
Para este ser fazemos promessas, criamos espectativas do futuro, que vão se perdendo até tornarmos um outro SER e darmos por exterminado aqueles sonhos que éramos.
Você retomou este seu reflexo e está indo em buscas dos sonhos que eram bons, das promessas que fez a si mesmo, tentando de alguma forma refletir sobre sua existência e o significado de toda sua trajetória até agora.
Muito belo isso.
Um beijinho, meu menino

Perola disse...

Oi meu amigo,eu acho que estou entendendo. Ele esta enfrentando uma crise existencial é isso?
O garoto de hoje é ele de ontem,sinto uma certa mágoa nesse garoto,algumas cobranças e respostas bruscas.
Espero continuar te lendo até que por fim eu entenda melhor o que esta desenrolando.
Um exelente fds meu qurido.
Beijokas millll.

Elaine Chieppe disse...

Olá Profex, tem uns selos pra você no meu blog por considerar seu espaço em especial. Abçs.

EXPEDITO GONÇALVES DIAS disse...

>>> Malu:> Ilynx representa um resgate de velhos sonhos que todos temos e esquecemos de implementar.Bjs.

>>> Perola;> Não é uma crise. É uma atenção dada a este espaço da memória que insistimos em manter escondido. Essa caixa de pandora que temos medo de abrir.

>>> L@ine ;> Já fui pegar. E estarei postando no Dia do Blogueiro. Obrigado pela distinção e pelo carinho. E volte sempre!

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