cuspindo sombras na praça,
intrigante e ameaçador.
Paro e comparo:
entre a causa e a consequuência,
o gozo e a dor,
o adiado e o imediato
o nada e a consciência,
a vida e a morte
existe um passo, um hiato...
um espaço onde traço meus
comos, ondes e por ques.
Nessa roleta, me pergunto:
qual a sorte, qual a meta.
Eternidade? Morte?
Sob este céu de dúvida e fumaça
busco palavras,
mas fico mudo ou rouco
pois nada sei,
ou sei tão pouco.
Não me dou por satisfeito,
continuo a indagação.
Sei apenas isso
Entre Sul e Norte,
cabeça e pés,
bem dentro do peito
bate um coração.
Existe um espaço,
entre o interno e o externo,
entre o inferno e o céu,
o saber e a ignorância,
a luminescência e o breu,
a luminescência e o breu,
a realidade e a fantasia,
a intenção e a indiferença...
Existe um espaço sim
onde o tempo morreu,
onde o mal questiona o bem,
onde o tempo morreu,
onde o mal questiona o bem,
onde perdi minha criança,
onde deixei minha alegria,
onde esqueci minha crença,
meus dons e toda graça.
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Quisera ver além, muito além!-
onde esqueci minha crença,
meus dons e toda graça.
.......................................................
Quisera ver além, muito além!-
dessa nuvem de fumaça...
Autor: Expedito Gonçalves Dias
(Escrito em Santo André-SP-, em 22-07-1972, 23h)