Assoma de dentro de mim um certo aroma... Exala da pele uma dor insuportável.
Será um aviso, um sintoma?
Avulta-se uma certeza
e oculta-se um mistério arrebatador,
um espinho penetrante,
um dente do ciso.
Pareço estar em coma implacável,
mas, sei que estou desperto,
olhos fechados, mas a mente acesa.
A dor do mundo está aqui
-(e eu a sinto!)- concentrada,
cruel, inexplicável e real,
ruminando noite e dia...
Tento sair desse labirinto
...mas o corpo não reage.
Quero, mas não posso fazer nada.
Talvez, fugir em disparada.
mas pra onde, se estou tão confuso?...
Foge pra longe! - Você diria...
Abdico desse desejo, por enquanto, fugir mesmo, bobagem, não posso,
estou preso em sinuca de bico!
Um ângulo obtuso é o que sou,
em incerto e instável equilíbrio.
Natureza morta, à margem de tudo,
eu continuo, ainda, escravo dessa dor.
Fugir não posso mesmo,
não adianta, pois é provável
que eu a encontre de novo, bem perto,
ali, pouco além dessa porta.
Pois esta dor oculta é o que me resta,
uma dor da qual não se foge
e que tem o rugido da besta!
É lancinante, aguda e trágica,
é dor que dói durante a festa,
em plena terça de carnaval...
Explodiu de uma semente
ignóbil, desconhecida.
Adubou-se de sombras e miasmas.
E, de forma vil e antropofágica,
cresceu em triunfal desplante
e não pode ser contida.
Hoje reina soberana
em mim e ao meu redor!
É sinistra e traz da noite
todos os fantasmas
e o apavorante negrume.
De onde veio esta flor
repugnante e indecorosa?
Será supra-humana?
Só sei o seu perfume,
não a vejo, não tem cor.
Paradoxalmente é uma dor
que explode feito um botão de rosa!
Como criança indefesa, eu me pergunto:
Se toda alegria se constrói a partir da dor...
...que surpresa me trará essa flor???
Autor: Expedito Gonçalves Dias
0009-Meus Poemas - A Flor Oculta-(Escrito em 03-09-2001, em Varginha, às 19:55 h)