Constatação
E um sopro inteligente fez dela
um grande milagre;
e, dessa magia, surgiram as
coisas e seus afins!
E o Verbo-luz por ser divino
viu que tudo era Bom.
Criou Ele em seguida um homem
solitário
e o colocou em seus jardins
para desfrutar a vida.
Faltavam cores. Teve então uma
grande ideia:
co-habitou n'Ele, em sua graça,
o primeiro casal.
Aí, sei lá, alguma coisa
aconteceu nos bastidores...
À Sua semelhança se diz que Ele
nos fez falantes e nós,
de outra geração quiçá
desconhecida,
descobrimo-nos, logo, também
criadores:
buscamos uma folha de parreira
para enfeite!
Tudo se repete como no paraíso,
até as reticências...
De meninos, crescemos e nos vem
a companheira,
para ser amada, para nosso
consolo... e deleite!
E na esteira dessas
consequências aqui estamos,
ainda feito crianças sem
entender quase nada...
Nos distinguimos dos animais,
viramos adultos.
Queremos fazer história, a
diferença, fazer amor.
Inauguramos estradas, criamos
leis, forçamos a barra,
mas nos esbarramos no corredor,
sem memória.
Criamos empréstimos, cobranças,
sentenças e indultos.
Construímos pódios,
aperfeiçoamos o barbitúrico,
disseminamos a droga e nos
enfeitamos com o lucro,
brincamos com o ácido sulfúrico
e o bicarbonato de sódio,
nos recolhemos no inverno e no
verão saímos da toca.
Inventamos a família, assamos
bolos, enfeitamos a sala,
recebemos os amigos, vemos TV,
fazemos fofoca,
criamos as redes sociais, os
amigos ideais... os virtuais!...
E (às escondidas) torcemos
pelos heróis do bial no bbb.
Para nos garantir, aos inimigos
enviamos os mísseis,
a injúria, a pena de morte e as
armadilhas mortais.
Inventamos regras, estatutos, o
Carnaval e a farra,
mas quebramos a jarra, as regras e os
protocolos.
Criamos o rosário, a reza e
acendemos nossas velas,
para nos redimir frente aos
tolos por nossas falcatruas.
Criamos o dinheiro para encher
nossos bolsos e a escravidão,
claro, para manter, de vez, bem claro as
diferenças.
Se, com medo fugimos,
rapidinho, pro porão;
pintamos a cara, saímos à rua,
agradando ao patrão.
Criamos crenças, a arte, o
calabouço e a cela.
E ainda o céu e o inferno para
poder negociar.
Pois não importa o teor - mas o
valor da comissão.
Ah! E para mamar, criamos a
política e a as tetas!
Trocamos o campo pela frenética
vida da cidade.
Olhamos pro céu procurando o décimo planeta,
perdemos tempo inventando
quimeras no porvir,
inventamos os mundos mentais, sereias, fadas,
nos enganamos procurando pela
felicidade.
A Ética, a Estética, vieram pra
nos confundir.
Mas não estamos nem aí. Nem
para a Genética,
nem mesmo pra tal Alegria ou
Felicidade,
pois perdemos a Fé! Se é que a
tivemos um dia...
Observamos estrelas enquanto
pisamos a areia,
somos mesmo irresistíveis,
impossíveis, invencíveis!
Lá no fundo sabemos o que é
certo, o que é balela,
o que é fome de verdade e o que
é barriga cheia.
E se o que queremos não vem,
buscamos à bala!
Mas é uma calamidade essa
certeza que não se cala:
Como é tão doce o fruto daquela árvore mais bela!
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