Perdi o equilíbrio, pisei em falso.
Mas a orquestra continua...
Tropecei no caos
numa noite dessas
e num leve cochilar,
escorreguei da lua.
Lua de carmim, inexata,
como os lábios daquela dama nua
e suas promessas insanas.
Todo meu ócio antigo
de contemplar as estrelas
e todas as destemperanças,
troquei por um porre num bar.
Abandonei minha criança
-de vez- sozinha no interior
e fiquei andando a esmo por aí.
e fiquei andando a esmo por aí.
Cerquei-me de inimigos.
...mas o pior deles não vive exatamente ao meu redor.
É cruel, medonho - me desacata
e se esconde mesmo dentro de mim.
Acordo de repente:
era um pesadelo!
O sonho não-realizado
esvai-se, cabisbaixo,
degrau por degrau,
escada abaixo,
escada abaixo,
bem à minha frente.
Percebi num instante
minha decadente situação:
minha esperança inteira lá fora,
provocante, em outros braços...
e eu num beco sem saída
uma vida estanque, perdida
uma vida estanque, perdida
-um corpo perdido no espaço-
mendigando um futuro.
Ah, eu juro: seria bem diferente
se em minha alma tocasse um funk,
no lugar deste tango
inconveniente...
Autor: Expedito Gonçalves Dias
(escrito em 17-11-2007, em Varginha, numa lan house)