Dezenas de páginas borradas trazem-me o caos.
Paus e pedras, contrastes, Oriente e Ocidente,
pulam do jornal, misturam cenas de lixo e arte.
Vejo tudo torto, estranho, meio às avessas.
Tamanho mosaico confunde a mente incauta,
mesmo assim, tento decifrar o mundo num instante.
Busco algo importante, neste prolixo emaranhado,
uma pauta que valha a pena, um reconforto.
Não acho: o poço é escuro, arcaico e sem fundo.
Estou atordoado, nada disso me interessa!
Esta notícia é pura falseta de um infeliz editor:
o repórter é capacho e o ministro desconversa.
Esta outra, fala do osso e esconde o corte na carne.
Desfilam ante meus olhos ávidos tanta novidade:
um novo golpe de estado numa republiqueta
ou uma surrada receita para emagrecer.
Um certo político imaculado traz a solução
-sem me conhecer-, para os meus problemas
e para as dores da nação...é de estarrecer!
Nada disso me satisfaz e continuo folheando.
Reviro as páginas, releio e quase desisto...
Mas eis que surge alguma coisa séria:
achei aqui, meio esprimido, o caderno infantil!
Nele não há miséria, trapaça ou fome,
não ha registro de governo que caiu.
Ao contrário, tudo é colorido e arejado.
Nele o teto inteiro do mundo se abre
e a imaginação, livre, ganha asas...
Vou fundo também nas palavras-cruzadas,
pinto todas as figuras sugeridas no roteiro
e sinto as cores da vida em cada traço.
Busco então os sete erros da paisagem.
Com esperança, vou além e encontro dez.
E, na busca da palavra oculta do quebra-cabeça,
-nesta pura viagem!, me torno criança outra vez...
Autor: Expedito Gonçalves Dias
(Escrito em 15-12-1976, não registrei hora)0027-Meus Poemas - Palavras Ocultas! - (crédito da imagem:www.melhoramiga.com)