Todos trazemos dentro de nós reminiscências que carregamos ao longo dos anos. Ecos de trechos lidos ou ouvidos que ficaram gravados em nosso íntimo e que de vez em quando, ao sabor da sorte, disparam os gatilhos da memória, levando-nos a eras e lugares remotos já vividos e visitados.
Neste espaço eu trago alguns deles para sua apreciação.
Este, por exemplo faz parte do Livro Eu e Outras Poesias, de Augusto dos Anjos, poeta ímpar, inclassificável na literatura, incomparável na profundidade. Livro que adquiri em 1977, em Santos, numa de minhas férias com a família quando trabalhava na Petroquímica União, em Capuava-Mauá-SP. Lembro-me bem da cena ao adquirir o livro e do local: Livraria Atlântica, na Avenida Ana Costa. E do vendedor que me atendeu, atencioso, ao mesmo tempo curioso pela minha aquisição, o que levou a um bom bate-papo sobre o instigante Autor das palavras que se seguem. Desculpe, mas era importante colocar este detalhe e acrescentar que este livro permanece bem aqui na estante sempre à mão, para reler e reler e....
Ao Luar
Quando, à noite, o Infinito se levanta
à luz do luar, pelos caminhos quedos,
minha táctil intensidade é tanta
que eu sinto a alma do Cosmos nos meus dedos!
Quebro a custódia dos sentidos tredos
e a minha mão, dona, por fim de quanta grandeza,
o Orbe estrangula em seus segredos,
todas as coisas íntimas suplanta!
Penetro, agarro, ausculto, apreendo, invado,
nos paroxismos da hiperestesia,
o Infinitésimo e o Indeterminado...
Transponho ousadamente o átomo rude.
E, transmutando em rutilância fria,
encho o Infinito com a minha plenitude!
Autor: Augusto dos Anjos
(20/04/1884 a 12/11/1914)