Por um momento, iluminam-se as noites mais escuras  
e máquinas aéreas superiores desenham riscos no firmamento.  
Ao fundo, os  corpos celestes do plano zodiacal 
indicam como ponteiros de um grande relógio 
que é chegada, então, a boa hora, 
bem no horário, com a precisão de segundos.
Mas são ainda pálidos os reflexos da ciência. 
Nada revolucionário nos chega à razão, por ora. 
Apenas arriscamos balbuciar frases coerentes
 em nossa elementar e primitiva forma de comunicação.
A mais avançada tecnologia conhecida 
gera apenas pequenos códigos lineares, 
sem sentido, e se queda diante da grandeza do Universo. 
Os homens da ciência com suas máquinas de lógica, 
criam o reverso da moeda, fantasia, pura ilusão.
  
Mas no fundo da alma do homem mais simples 
existe um elo que o liga ao mais alto da imensidão do infinito,
numa instância diferente, uma segunda religião.
A origem está sempre presente em cada ente vivo. 
Como uma marca, um selo. 
Um link a ser acionado à distância, 
uma semente que irá desabrochar na precípua estação.
E quando ele recebe o chamado, o incentivo,
vai com ganância em busca do seu destino.
Seus olhos se voltam em direção às estrelas,
 pulsa o coração de ansiedade pura. 
Cresce dentro de si o desejo da subida, de ascensão,
um desatino que o empurra em busca da identidade. 
 
É a redenção da crisálida que da poeira do chão
 encara a face obscura do desconhecido, 
suplicando por sua memória que lhe fora subtraída outrora... 
Prevendo a sonhada liberdade, se arrepia. 
É um momento de rara beleza! 
O mundo inteiro estremece!...
Num ato de coragem, a irisada borboleta alça seu vôo, 
sai do casulo terrestre indo adejar adiante noutros sítios,
 terras iluminadas por outros sóis, numa tardia viagem. 
Livre das algemas, despe-se também dos dogmas, 
voeja a céu aberto para longe do cativeiro.
Não precisa de bagagem nem de mapa, 
pois conhece a direção natural fornecida pelos arrebóis, 
nas manhãs da nova consciência. 
As máquinas da providência lhe darão o maná, 
quando necessário, em esquemas já definidos.
  
Sente-se serena, sem medos ou vaidade, a sua alma feminina.
Curte tranquila esse despertar e se extasia diante da nova cena. 
Reconhece-se como sendo um rebento da terra prometida, 
no desvão sideral que a sua própria imaginação ousou criar.
Tem agora diante de si outra luz e o mapa da caminhada, 
Sua alma se contagia: desta vez sente que vai valer a pena! 
 
Um programa então se instala. 
Seus neurônios decifram a rotina
A verdadeira humanidade ganhou mais uma aliada!
Autor: Expedito Gonçalves Dias 
0015-Canaã-(Escrito em 06-04-92, em Lambari-MG)